Bagé, 1976.
Era final de agosto, o inverno estava apenas na
metade, mas como sempre acontecia nos últimos anos, este mês teve a temperatura
superando os vinte graus.
Naquela manhã quando acordei, parecia estar mais frio
que no dia anterior, andei até a janela do quarto e abri, olhei para fora e havia
um nevoeiro muito intenso, mal conseguia enxergar as árvores do pomar no quintal
de casa. Os passarinhos cantavam nas árvores como acontecia todas as manhãs, na
verdade eram eles que me despertavam. Esta sonoridade fez com que me desse uma
vontade louca de acompanhar aquele canto com os acordes de meu mais novo
companheiro, o violão. A reação foi imediata, tirei o instrumento da capa, corri
até a varanda, me sentei no banco e tentei fazer com que um acorde soasse, mas
meus dedos estavam frios e não obedeciam as ordens que o pensamento mandava.
Não
teve jeito, o melhor a fazer é pegar o material didático do professor Edemar
Teixeira e fazer alguns exercícios de aquecimento. Larguei o violão, fui até o
meu quarto para pegar a apostila e... foi neste momento que o inesperado
aconteceu, alguns farelos de procedência desconhecida, pairavam ao redor do meu
material de estudo de violão.
Desconfiado com a situação, perguntei a minha mãe
se ela ou meu irmão tinham estado em meu quarto, mas a resposta foi negativa e
com isso o caso ficou mais misterioso ainda, pois eu jamais havia feito uma
refeição no quarto pois minha mãe não permitia, a não ser que estivesse doente
e neste caso ela mesma teria me alimentado e não produziria os farelos que eu
encontrei naquele momento.
Tomado pela dúvida e pela angústia de saber como
aqueles farelos apareceram ali e incentivado pelos filmes de investigação, pois
era muito comum nesta época de assistirmos um filme e depois sair brincando que
éramos um dos personagens, virei o Sherlock Holmes, ou melhor o Marcello Holmes – Elementar meu caro
Watson – para descobrir este grande mistério. Até mesmo um kit detetive, que eu
havia comprado, utilizei para desvendar o mistério.
Com a Lupa na mão, chapéu
na cabeça e os olhos bem atentos fui à busca dos vestígios para desvendar este
mistério sobre os farelos em meu precioso material de estudo de violão. Percorri
todos os arredores e percebi que na verdade o meu material didático estava bem
no meio da trilha produzida pelos farelos. Então persegui a trilha começando
pelo lado direito e acabei na cozinha, justamente no cesto em que minha mãe
guardava pães e bolachas. Mas o que teria produzido esta trilha? Eu com meus
seis anos de idade e profundo conhecimento investigativo não fui capaz de
imaginar e então voltei ao ponto de partida.
Desta vez percorri a trilha para o
lado esquerdo, e observei que a mesma saía para o lado de fora justamente na
janela de meu quarto e fiquei me perguntando como pode eu não ter visto este
rastro antes, pois a pouco estive na janela? Continuei a investigação, saindo
correndo para o lado de fora da casa e percorrendo a trilha, centímetro por
centímetro.
No final, satisfeito com a descoberta, pois não passava de um
trajeto que as formigas traçaram entre a cozinha e o formigueiro que por coincidência
do destino cruzou pelo meu quarto e pela minha apostila de violão.
Por sorte
nossa, fãs do Marcello esta atividade de detetive ficou esquecida para trás e o
Marcello deu continuidade aos estudos do violão, o que fez com que ele tenha se
tornado este excelente músico e referência na musica gaúcha.
Esta história é
uma ficção apenas para ilustrar uma brincadeira de infância do Marcello na
qual fez com que ele adquirisse um kit de detetive com manual e tudo.