quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Marcello Holmes





Bagé, 1976.

Era final de agosto, o inverno estava apenas na metade, mas como sempre acontecia nos últimos anos, este mês teve a temperatura superando os vinte graus. 

Naquela manhã quando acordei, parecia estar mais frio que no dia anterior, andei até a janela do quarto e abri, olhei para fora e havia um nevoeiro muito intenso, mal conseguia enxergar as árvores do pomar no quintal de casa. Os passarinhos cantavam nas árvores como acontecia todas as manhãs, na verdade eram eles que me despertavam. Esta sonoridade fez com que me desse uma vontade louca de acompanhar aquele canto com os acordes de meu mais novo companheiro, o violão. A reação foi imediata, tirei o instrumento da capa, corri até a varanda, me sentei no banco e tentei fazer com que um acorde soasse, mas meus dedos estavam frios e não obedeciam as ordens que o pensamento mandava. 

Não teve jeito, o melhor a fazer é pegar o material didático do professor Edemar Teixeira e fazer alguns exercícios de aquecimento. Larguei o violão, fui até o meu quarto para pegar a apostila e... foi neste momento que o inesperado aconteceu, alguns farelos de procedência desconhecida, pairavam ao redor do meu material de estudo de violão. 

Desconfiado com a situação, perguntei a minha mãe se ela ou meu irmão tinham estado em meu quarto, mas a resposta foi negativa e com isso o caso ficou mais misterioso ainda, pois eu jamais havia feito uma refeição no quarto pois minha mãe não permitia, a não ser que estivesse doente e neste caso ela mesma teria me alimentado e não produziria os farelos que eu encontrei naquele momento. 

Tomado pela dúvida e pela angústia de saber como aqueles farelos apareceram ali e incentivado pelos filmes de investigação, pois era muito comum nesta época de assistirmos um filme e depois sair brincando que éramos um dos personagens, virei o Sherlock Holmes, ou melhor o Marcello Holmes – Elementar meu caro Watson – para descobrir este grande mistério. Até mesmo um kit detetive, que eu havia comprado, utilizei para desvendar o mistério. 

Com a Lupa na mão, chapéu na cabeça e os olhos bem atentos fui à busca dos vestígios para desvendar este mistério sobre os farelos em meu precioso material de estudo de violão. Percorri todos os arredores e percebi que na verdade o meu material didático estava bem no meio da trilha produzida pelos farelos. Então persegui a trilha começando pelo lado direito e acabei na cozinha, justamente no cesto em que minha mãe guardava pães e bolachas. Mas o que teria produzido esta trilha? Eu com meus seis anos de idade e profundo conhecimento investigativo não fui capaz de imaginar e então voltei ao ponto de partida. 

Desta vez percorri a trilha para o lado esquerdo, e observei que a mesma saía para o lado de fora justamente na janela de meu quarto e fiquei me perguntando como pode eu não ter visto este rastro antes, pois a pouco estive na janela? Continuei a investigação, saindo correndo para o lado de fora da casa e percorrendo a trilha, centímetro por centímetro. 

No final, satisfeito com a descoberta, pois não passava de um trajeto que as formigas traçaram entre a cozinha e o formigueiro que por coincidência do destino cruzou pelo meu quarto e pela minha apostila de violão. 

Por sorte nossa, fãs do Marcello esta atividade de detetive ficou esquecida para trás e o Marcello deu continuidade aos estudos do violão, o que fez com que ele tenha se tornado este excelente músico e referência na musica gaúcha. 

Esta história é uma ficção apenas para ilustrar uma brincadeira de infância do Marcello na qual fez com que ele adquirisse um kit de detetive com manual e tudo.


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