quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Histórias de Palco... Itaqui 2012


Esta História ocorreu no show em Itaqui, durante o acampamento farroupilha de 2012...


Marcello contou mais ou menos assim....

Mas olha meus amigos, vocês vê a gente tocando aqui  violão né, fazendo um monte de murisqueta pra lá e praça né, e mão pra frente e mão pra trás e mão pra cima e mão pra baixo, dedinho pra lá e dedinho pra cá... é... vocês não imaginam a peleia que é aprender a tocar este troço aqui né tchê, eu venho peleando, mas não desisto também, não afrouxo.... olha, eu vou contar uma história pra vocês... uma história que aconteceu comigo quando eu estava aprendendo a tocar violão, começando a aprender, pois aprendendo a gente está sempre né e isso ainda era lá em Bagé, minha cidade natal.

Bom quando eu vim para a cidade, para estudar no colégio, eu tinha portanto sete anos, a minha mãe a dona kita um dia me trouxe um violão e me entregou...

- Marcello, tu tá passando a tarde inteira estudando, mas a manhã inteira tu fica vagabundeando sem fazer nada.

É... passava a toa em casa vendo televisão né tchê, é verdade e aí que disse assim ó:

- Então eu vou te colocar numa aula de violão, pra tu aprender a tocar violão.

E eu digo bueno então tá, vamos lá né... gurizote né tchê e tal... e já gostava de violão, e já gostava de música e tal, fui fazer aula de violão... e aí o violão que ela me trouxe, olha, nem conto pra vocês, era um violão tão ruim, mas tão ruim que em vez de cordas parecia que tinha umas faca ali, né tchê, é... umas faca velha brabíssima assim... e aí me atraquei no primeiro dia a tocar aquilo de qualquer jeito, que nem os guri hoje a tarde na oficina, se atraquemo a tocar, que coisa mais linda, me atraquei a tocar aquilo e olha, quase gastei os dedo né tchê, um deles por sinal gatou tudo, ficou só quatro numa mão né tchê... risos da platéia... é... verdade mesmo... mais risos... foi aí que começou o problema, né tchê... bah...

Mas aí num outro dia o meu pai, seu Alberto Caminha, chegou pra mim com um LP, um LP da 10º Califórnia da Canção Nativa, faz tempo isso tá, 1980 né... e eu escutei aquele disco e me chamou a atenção uma música que tinha ali, muito bonita por sinal chamada Recuerdos da 28, uma música conhecida, os senhores devem conhecer, certamente porque o meu amigo e colega Joca Martins gravou esta música e fez sucesso com esta música e faz até hoje, e eu, o que me chamou a atenção não foi propriamente a música, mas sim um solinho de violão que tinha nesta música muito bonito, que foi o primeiro que eu aprendi a tocar... que é assim ó...

 “neste momento o Marcello executa o solo de introdução da música Recuerdos da 28 em uma velocidade de execução normal e prossegue...”

Hoje eu toco ele bem tranquilo, mas aquele dia, o primeiro dia que eu escutei o disco, eu me atraquei a tirar aquele solo e não conseguia tirar nada né tchê... aí minha mãe disse assim:

- Marcello, mas quem sabe tu faz o seguinte, tu vai lá e leva o disco pro teu professor, ele escuta e te ensina a tirar esse solo.

Tá certo, eu estava estudando violão né... muito bem, segui a orientação da minha mãe e cheguei pro professor lá..

- Professor, tenho um disco pra lhe mostrar aqui e quero que o senhor me ensine a tocar um solo de violão que tem em uma música.

Aí ele escutou o disco, escutou e tal e diz assim pra mim:

- Olha rapaz, mas tu até loco é tchê, porque tu tem uma semana de aula e já quer tirar essas coisas difícil aí...

Gurizada, nem imaginam a encrenca que ele arrumou para a vida dele, é... porque torceu, é... cutucou a onça com vara curta e me puxou as barba do meu violão tchê... é... eu não sei como é aqui meus amigos, aqui em Itaqui... deve ser meio parecido porque tudo é fronteira né, e esse pessoal de fronteira é estourado uma barbaridade, por qualquer coisinha companheiro, qualquer coisinha sai do sério, não é verdade? É... e eu era um baixinho gordinho assim ó... mas olha tchê aquilo... estufava o peito e... de baita entonado que eu era... bueno, é...   aí eu disse pro professor:

- A então tá, então o senhor não quer me ensinar, pois agora eu vou lhe dizer uma coisa, semana que vem eu vou trazer esse solo aqui na próxima aula bem tiradinho pro senhor... e vou lhe mostrar como tiro sozinho.

Bueno fui pra casa, primeiro dia sai meio mascado assim como diria... e aquilo foi uma peleia pra tirar. No segundo dia meu amigo, Matheus Kleber, já acertei a primeira nota, já é alguma coisa... bueno pra encurtar a história pra vocês, uma semana depois eu já estava tocando aquele solo mais ou menos assim ó...

“Marcello executa o solo ligado em 220v, a uma velocidade umas 100 vezes mais rápido que a velocidade normal da música... risos geral da plateia...”

Mais ou menos assim... bom ai eu digo, bueno tá na hora de levar par mostrar pro meu professor... cheguei lá na aula, o professor um moreno véio, entroncado, deste tamanhão assim né tchê,  e eu olho pra cima e digo:

- Professor, eu quero lhe mostrar uma coisa...

Cheguei ali e mostrei pra ele né tchê...

“O Marcello executa novamente o solo numa velocidade extremamente rápida e faz gestos como se olhando para cima e apontando para a cara do professor com a maior satisfação... novamente risos da platéia”

- Tu tá expulso da minha aula rapaz. Isso é um desacato ao professor, como é que tu vem aqui querer te exibir pra mim aí com esse solo...

Barbaridade... olha, resumo da história, fui expulso da aula do professor... fui expulso do conservatório, só não fui expulso da cidade por pouca coisa né tchê...

“Marcello continua o show cantando e executando a música Recuerdos da 28...”


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